Migrar é muito mais do que mudar de país. É deixar para trás uma parte de si, enquanto outra, ainda desconhecida, começa a tomar forma. É um processo de morte e renascimento, um ciclo de despedidas e novas descobertas que exige coragem, paciência e entrega.
Neste texto, compartilho uma reflexão profunda sobre as transformações internas que acompanham aqueles que se atrevem a cruzar fronteiras. Uma jornada de identidade, pertencimento e reconstrução.
Migrar é morrer.
Morrer de olhos abertos e coração pulsante.
E olhar de perto essa morte de uma vida vivida, até o momento do embarque.
A morte interna e intensa de uma identidade construída e de referências que tanto nos caracterizaram.
Migrar é renascer.
Nascer de novo, já adulto e com bagagem de vida a tiracolo.
É aprender a existir em um novo contexto.
Aprender a se fazer entender, a se comunicar, a engatinhar, a se relacionar.
É precisar de colo quando vier o choro entalado, a frustração raivosa e a certeza das ausências, nunca antes sentidas.
É precisar de amparo para as perninhas bambas que teimam em fraquejar no processo de aprender a andar.
É se alimentar de coragem.
Migrar é morrer.
Para uns lentamente, e para outros rápido demais.
Cada qual no seu tempo e compasso, respeitando seu processo.
Único e individual.
Morrer lentamente é aquela morte que se agarra e reluta, o quanto pode.
Se recusando a deixar ir.
Apegada ao que já foi e resistente ao que virá.
E algumas vezes, nesse processo de extremo apego, já estamos mortos e nem nos damos conta.
Já morrer rápido demais, pode parecer indolor em um primeiro momento.
Mas a cilada em morrer rápido demais, é não ter nem tempo de se despedir.
De fechar o ciclo.
De se permitir sentir e elaborar as emoções que chegam.
Migrar é renascer
É ter a chance de desenhar uma nova história, com seus próprias mãos como pincel.
É se autorizar a seguir o seu caminho, aquele que só seus pés podem te levar.
É se fazer casa. Templo sagrado.
São muitas as mortes e renascimentos, para quem se atreve a voar.
E migrar é não saber.
Como vai ser o morrer e nem mesmo o renascer.
Se vai doer ou tirar de letra.
Mas ele vai acontecer.
Migrar é aprender.
A se fazer morrer.
E, então, se permitir renascer.



